domingo, 20 de maio de 2012

Aos Vinte e Oito


Quando é que deixamos a infância pra trás e ingressamos realmente na vida adulta? Existe realmente um delineador entre essas fases? Ou será que somos eternos adolescentes, sabedores que a criança já se foi e começa a busca pelo respeito que achamos só estar com quem possui trinta e dois dentes?
Em outras culturas, como a indígena, existe um delineador claro destas fases. Existem tribos que quando os meninos atingem certa idade, são submetidos a testes de resistência a dor como ficar ajoelhado em um formigueiro durante um bom tempo. Costumes que podem nos assustar por ser diferente, mas quantas crianças sofrem torturas até maiores e sem o propósito de fazê-las crescer, já que acontecem em idades que não conseguem distinguir bem e mal (se é que o sabemos). Quando não agredidas diretamente, são testemunhas oculares de atrocidades que faz com que qualquer ser humano que esteja construindo seus referenciais, fique em contradição com relação ao que a sociedade mostre ser justo e correto.
Mas será que só a dor é capaz de nos tornar responsáveis?
Por isso não me admira que tantas pessoas queiram ser eternas crianças. Quem em sã consciência (salvo os masoquistas) é voluntário pra sentir dor?  Quando já com mais primaveras do que desejamos nos deparamos com realidades nua e crua, soltamos um bordão infantil “não quero mais brincar desse negócio de ser adulto!”.
Sim, tudo é mais dolorido, mais chato. Ou você conhece alguém com mais de 11 anos que fica feliz da vida por estar correndo alucinadamente? Ou que solta uma gargalhada contagiante ao ver um cachorro correndo atrás do próprio rabo? Já ter visto muitas coisas, se tornar criterioso, ser consciente das coisas que acontecem no mundo ao seu redor nos torna um bando de ranzinzas. Então só morrendo e nascendo de novo pra retomarmos a graça da vida?!
Certa vez li um texto que dizia que a morte não deve ser encarada de forma tão ruim. Que devemos dar mais crédito a ela. Justamente porque tem coisas que não conseguem coexistir num mesmo ser humano. Não dá pra você ser uma pessoa simpática se não consegue despretensiosamente passar por alguém na rua e dizer um simples bom dia. Devemos deixar morrer coisas pra que outras apareçam. Após a erupção de um vulcão, e de seu magma destruir tudo ao redor, surge uma bela flor. Então se queremos mudança temos que nos permitir que algo seja extinto em nós. Deixe o que lhe faz mal morrer, pra dar espaço ao que te faça bem nasça.
“Só depois de você esvaziar completamente sua mente é que você vai liberar espaço para que o mundo entre em sua cabeça.”, essa frase (ou algo bem próximo) é do filme: Comer, rezar e amar, que embora seja bem diferente em vários sentidos do filme “V de vingança” eu vejo esta mesma mensagem em ambos: desconstrua toda tua teoria de quem és e volte a tua essência infantil. Não despreze todo conhecimento adquirido em anos, apenas se reconstrua de acordo com seu alicerce. Não tem como construir um arranha-céu sobre palafitas.
A grande verdade é que estamos sempre nessa eterna mudança e busca, busca de nos reconhecermos em todas mudanças que fizemos pelo caminho por conta das interferências do caminho. É, tipo, sempre me achei o cara mais azarado do mundo, por quê? É que nunca fui muito de sair, mas sabe como é né, o grupo de amigos sempre ia pra night e voltava falando que toda noite era melhor que a anterior. Instigado por essas idéias fui um dia pro tal lugar que meus parceiros falavam. Não vi nada do que comentavam, não achei muita graça e não sei se eles perceberam na minha cara que não tinha gostado, eles mandaram: “pô ontem foi fraquinho, sempre é bem melhor” Depois dessa situação acontecer muitas outras vezes com amigos e lugares/situações diferentes que me dei conta de que todos os dias eram como os que eu ia, só que eu que não via graça nenhuma mesmo.
Decidi seguir o sábio conselho de mãe e fui procurar a minha turma e descobri que tenho muitas turmas, porque não sei o que é essa de que quem curte uma parada não curte outra, quem gosta de MPB não gosta de boate, quem curte teatro e exposição de arte não curte malhar. Não existe a turma dos que curtem muitas coisas?
Descobri que julgar as pessoas e as coisas, delimitá-las, faz com que deixemos de ver e aproveitar muito mais. Afinal as crianças não julgam. E voltamos tentar buscar boas referências infantis para nosso amadurecer.
Após essa descoberta começa uma busca aos valores de criança sendo adaptada pra caber na realidade atual. Nessa busca começamos a nos complicar e misturar pé com mão, acertando, errando, adaptando mal valores, esquecendo outros. Pintores e escritores (embora amador também busco) procuram expressar profundamente seus pensamentos e ideais com a simplicidade de uma criança. Num mundo de mensagens subliminares, quem consegue ter a inocência cruel de uma criancinha e fazer comentários desconcertantes.
E o amor, (ah o amor!) qual criatura com a idade de cristo não gostaria de ser simples e dizer “eu te amo” tão inocente e puro como uma criança (exceto quando elas aprendem a chantagear com isso), ou mesmo ser direto e dizer olhando nos olhos “eu não gosto de você”. Tem sempre um complicador, algo a levar em consideração. Alguns sessentões que conheço dizem que são totalmente diretos e francos, até porque no máximo irão dizer: ah, é a idade. Será que por isso dizem que retornamos a infância quando envelhecemos?
Sei que em praticamente na metade deste caminho deixei morrer, desconstruí muito que havia em mim de infantil, pra renascer sobre meus pilares fundamentas. Depois de tudo que tenho visto por essa minha vida e na de outros, me refaço um ser em paz comigo mesmo. Sabedor que me dou a concessão de ser eu mesmo, renovado, com novos hábitos, hobies, pensamentos. Hoje posso isso por saber que posso ser eu mesmo que você já me entendeu muito antes do que eu!
  
Eu vejo você!




Escrito por Luís Fernando Sobreira - o noivo - 10 dias após completar 28 anos de idade e na véspera de completarmos 5 anos de relacionamento. (14/01/2011)