sábado, 14 de maio de 2011

Todas as cartas de amor são ridículas

Eu sou do tempo do e-mail, da era digital, do SMS.
Mas minh'alma é do tempo do papel-de-cartas perfumado, das letras deslizando sobre o papel de seda a desenhar as palavras vindas das profundezas de um ser que sofria de amor, vivia por amor.

Sou de um passado tão próximo, mas por horas tão distante, que me lembro dos bilhetinhos de amor, dos coraçõezinhos flechados, do nome do "bem-amado" bem coladinho ao meu em cada canto da folha de um caderno de versos e poesias.
Sou do tempo que as meninas sonhavam com a valsa dos 15 anos e depois com o véu de noiva e suspiravam só de imaginar a noite de núpcias.
Já diziam nesse tempo que as cartas de amor, se há amor, tem de ser ridículas. E é verdade! Não há nada de ridículo em amar, em buscar pelo ser com quem se quer passar a eternidade dos dias.
Cometer desatinos, loucuras e dar vexame.
Se fazer notar, se fazer de amigo.  
Afinal, são as criaturas que nunca escreveram cartas de amor que são ridículas!

Sou completamente literal, amo ler, amo expor as idéias em palavras, amo reler cada trechinho de um bilhete deixado sobre a mesa, de um cartão de felicitações, de uma declaração de amor.
Amo a sensação que me dá saber que alguém dedicou-me aqueles versos, que me "sentiu" naquela música, que me viu de um jeito só seu.

Abaixo à hipocrisia desses tempos modernos, onde com um simples "delete" se resolve tudo.
Onde as palavras vêm sempre de um site de busca e num tal de "ctrl+c" e "ctrl+v"consegue-se dizer tudo aquilo que se diz sentir.
O papel tem um sentimento tão profundo embutido em si, que até para se despedir de uma declaração de amor antigo, dói.
E cada rasgo que se faz é um corte que se dá na alma, é uma perda irreparável daquilo que significou um tudo, em um para sempre.
É como se com ele fosse um pedaço da gente.

Nos amores de hoje, te ver e não te querer é tão provável e possível, num simples liga e desliga de web cam e os sentimentos vão e vem numa frequência tão inconstante, que não se ouve dizer sobre "sofrer por amor".

Eu quero o sonho de menina, quero letras e versos, quero conhecer a caligrafia de quem eu amo.
Quero poesias feitas pra mim!
E mesmo que esse momento não seja eterno, posto que é chama, mas seja infinito enquanto dure!
E se não durar, eu quero chorar!
Até parecer que vou morrer.
Até que essa dor passe, que tudo acabe, que todo esse sentimento morra dentro de mim (ou não), e que eu consiga seguir, sozinha.
Até que tudo recomece outra vez e outra vez.
Porque o amor é um ciclo, é um vício. Um sentimento bandido, que ora é completamente seu, e logo de outro alguém.
E como agente não descansa enquanto não pega aquela criatura, vamos seguindo nessa tortura que é o mal de amar.
E pra não dizer que não falei das flores, fico a pensar, quantas meninas não desejaram ganhar aquele buquê de rosas, que não podia ser vermelha e nem chá.
Era um tom rosado suave, que dava a entender e dava o que falar.


Cansei dessa coisa de enviar TORPEDO, SMS e quantas siglas mais essa falta de calor humano tiver!
Quero o encanto de uma rosa colhida na beira da estrada, fugida pelo muro de um jardim vizinho, aquela sensação de beijo roubado, de corpo trêmulo e olhar marejado.
Quero imaginar que posso acordar com uma serenata na janela. E uma composição de Cartola a embalar nossa hora de apenas ficar junto.
Quero fazer coleção de papéis de bala e embalagens de bombons, quero ter lembranças em pequenas coisas, e viver momentos intensos, sem que intenso pareça ou tenha uma conotação sensual.

Vamos esquecer essa onda de que romantismo é brega, porque brega é não ter sentimento. E não me venham dizer as mulheres que não faz falta um dengo, um chamego, um cafuné.
Que não é gostosa aquela sensação de apelo que só um homem apaixonado tem. E quem já viveu isso sabe bem. É um caminhar entre as nuvens, é uma fina sinfonia. É a certeza de que se tem pra quem doar a lua e ver o brilho das estrelas.

Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor como as outras, ridículas. E era nas palavras que eu moldava o meu sentimento e remetia a um bem, que antes, nem importava se corresponderia ou não à minha expectativa, pois o que valia era essa coisa sadia que é gostar de alguém.
Os amores platônicos embalavam as madrugadas frias, e fizeram nascer poesias, chorar lágrimas de uma solidão que não doía. O ficar perto era o auge do sentimento, um olhar ou "olá" dizia mais que um "amo você", tão banalizado hoje em dia.
E no momento do beijo, que mais parecia um gracejo, uma mistura de sentimento inocente, uma coisa doida que dava na gente, uma calma, uma agonia, uma ansiedade, uma explosão de alegria.
Uma cartinha no dia seguinte dizia: Quer ser minha namoradinha?




"...porém não tive coragem de abrir a mensagem 
Porque na incerteza eu meditava, dizia
Será de alegria, séra de tristeza..."
 

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